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quinta-feira, 18 de abril de 2013






Por Reginaldo Carlota

Em 1984, eu tinha 10 anos de idade. Estudava de manhã no "Lar dos Meninos", lá no Patrocínio e a tarde na escola Cícero, aqui em Itu.
Na primeira semana de abril, daquele ano, cheguei no Cícero e a garotada estava toda assustada. Haviam achado o corpo de uma menininha de 9 anos, que estudava no Cesário Motta.
O corpo dela, estava jogado num matagal da Estrada Jurumirim, mais pra trás de onde é o Plaza Shopping hoje. O nome da menina era Silvia Aparecida do Espírito Santo. Morava na rua Santa Cruz, bem de frente daquela loja de móveis usados, atrás do Mercadão.
A menina foi estuprada e apanhou até morrer do assassino.

Fiquei super assustado, assim como as outras crianças da minha idade. A gente sabia que tinha um cara por aí, matando crianças. Pior, além de matar, ele ainda estuprava antes.
Passaram alguns meses e em setembro daquele mesmo ano, um coleguinha meu que estudava no Lar dos Meninos, apareceu na escola mudo, triste, sem falar com ninguém. Uma freira do colégio veio dar a trágica notícia: um maníaco havia estuprado e matado a irmãzinha dele. O nome dela era Isabel Bezerra da Silva. Tinha 10 anos e morava no São Luiz. Ela vendia pãezinhos que a mãe fazia, pra ajudar no sustento da casa. Saiu uma tarde pra vender, e nunca mais voltou. Foi achada dias depois, numa mata onde é o Parque América hoje.
O assassino, depois de estuprar a menina, pegou a toalha que cobria a cestinha de pães e a estrangulou até a morte. Mas antes disso, enquanto ele a estuprava, enfiou um pedaço da toalha na boca dela, pra quem ninguém ouvisse os gritos.
Eu tinha 10 anos.

A polícia de Itu nunca resolveu o caso. Na verdade, nunca tiveram a menor ideia de com quem ou que estavam lidando.
A maioria da garotada da minha época esqueceu os dois assassinatos e tocaram a vida pra frente, sem pensar mais nisso. Eu não consegui.
Desde os meus dez anos de idade, nunca, nunca mesmo, deixei de pensar naquelas duas garotinhas mortas.
Cresci obcecado pelos crimes e revoltado pelo fato dos assassinatos nunca terem sido esclarecidos.
Prometi pra mim mesmo que, quando eu crescesse iria atrás do assassino. E cumpri minha palavra.

Logo após esses casos, ainda com dez anos, comecei a ler sobre assassinos psicopatas, serial killers e praticamente tudo que envolvia crimes.
Em 1999, 15 anos após os assassinatos, eu não conseguia mais continuar pensando nessas meninas sem fazer nada. Decidi honrar minha promessa de infância e saí pessoalmente atrás do assassino de Silvia e Isabel. Nunca pensei em prendê-lo. Minha ideia, e juro por Deus do céu, do que estou falando aqui, era matar o cara que tinha feito isso com as meninas.
Comecei levantando todos os jornais da época, desarquivei os processos, fui atrás de parentes e conhecidos das vítimas, descobri quem eram os suspeitos da época, e comecei a montar um dossiê sobre o caso. No percurso, descobri que na mesma época dos crimes de Itu, e nos anos seguintes, inclusive ainda em 1999, inúmeras outras crianças com perfil semelhante aos das meninas de Itu, haviam sido estupradas e mortas em diversas cidades da região. Eu não tinha mais dúvida alguma de que um serial killer havia matado Silvia e Isabel. E o mais grave; o cara ainda estava na ativa.
Comecei a rodar por todas as cidades onde crianças haviam sido assassinadas, atrás de pistas do assassino. Mapeei os locais dos crimes e fui cruzando informações com o que eu lia nos jornais e ouvia de conhecidos das vítimas e pessoas que haviam visto as crianças antes do sumiço. Acabei descobrindo que a maioria delas havia sido vista com um sujeito gordo, barbudo, sujo e maltrapilho. Fiz um retrato falado do suspeito e mostrei em algumas cidades. Bateu. Era o cara. Até procurei a polícia, mas ninguém estava nem aí com crimes antigos não solucionados. Meu maior problema era dinheiro. Não tinha grana pra ficar viajando por aí, atrás de pistas de um maníaco, por isso, minha investigação estava andando, mas não tão rápido quanto deveria. No final de 1999, eu tinha uma pista quente. Em várias cidades onde crianças haviam sido mortas, pessoas sempre falavam no meio da conversa sobre o caso, terem visto um "andarilho esquisitão". Era o cara do meu desenho. Eu estava eufórico. Tinha descoberto que o assassino era um andarilho que perambulava de cidade em cidade.
Com base em todos os crimes, tracei o perfil psicológico dele. Era só uma questão de tempo.
Eu pensava que estava sozinho na investigação. Mas não estava.
Em Rio Claro, a delegada da Polícia Civil, Sueli Isler, estava tão obcecada quanto eu pra pegar o assassino. Ele havia matado seis crianças naquela cidade. Sueli, uma das melhores policiais que já conheci e sua equipe de investigadores, fizeram o que eu acredito que estava prestes a fazer; descobriram o assassino. Conseguiu encontrá-lo e prendê-lo antes de mim.
Era o cara. Laerte Patrocínio Orpinelli, o monstro que aterrorizou minha infância.
Foi por isso que escrevi um livro sobre a vida e os crimes desse assassino. Foi ele quem despertou meu interesse sobre crimes. Foi por causa dele que me tornei repórter policial.
Tentei falar com ele várias vezes, após sua prisão. Até trocamos uma carta, mas ele nunca aceitou falar comigo pessoalmente.
Em janeiro deste ano, quando ele morreu, vários jornais me ligaram perguntando como eu me sentia. Não soube responder. Mas pensando agora, acho que me senti frustrado por nunca ter tido a oportunidade de olhar pessoalmente nos olhos dele e perguntar: "por que você odeia tanto as crianças?".
Bom, já falei demais, quem quiser conhecer toda a história desse monstro, desde sua infância, até sua trajetória de crimes macabros, é só ler o livro "O Matador de Crianças".
 
 

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